Eis que chegamos a mais uma meta – pausa de Páscoa. Pausa será quiçá uma hipérbole “mal amanhada” para o passito de pardal ferido que nos aguarda, mas é “melhor que nada” diria o povo e “Voz do povo, voz de Deus, minha senhora mãe”, já dizia a Maria do nosso Garrett. Foi uma caminhada sinuosa este segundo período, um percurso recheado de inseguranças e incertezas, povoado de fantasmas a cada despertar, mas lá chegámos, uma vez mais, a bom porto. Ou não! Demos, sim, mais um desafio por cumprido. Certezas? Poucas. Dúvidas? Bastantes. “Inutilmente? / Não, porque o cumpri.”, qual D. Duarte.
Foram semanas de imersão nesta
missão, uma vez mais para que a fotografia pelo menos ficasse um pouco nítida,
se possível, um pouco mais aprimorada do que a do ano passado: a primeira experiência
de “ensino distanciado”, de uma troca de olhares e palavras entre ecrãs, ora
coloridos pelas carinhas dos nossos alunos, ora pretos por uma ausência das mesmas,
umas vezes pela vergonha, outras pelo puro capricho do desafio ou do sono
teimoso que não convinha denunciar. Uma coisa é certa, ambas as experiências
resultam num desconforto de um fato que foi apresentado sem tirar as medidas. Estivemos
bem? Dizem que sim, que melhor. Será? Pois bem, não sei. Se a maratona faz
suar, então sim, corremos uma bela de uma maratona e sim, chegámos à meta!
Lamentavelmente, uma vez mais,
fica o sabor amargo de constatar aquilo que só o banho de imersão permite: os
esquecidos serão sempre esquecidos, mas nestes momentos são-no ainda mais. Num
retângulo de tamanhas assimetrias, a escola é talvez o palco onde estas se
exibem mais e melhor, pelo que é muito ingrato que continuemos a ser governados
por políticas tão desumanizadas, em que as prioridades estão invertidas e em
que se confunde quantidade com qualidade como se tudo, ao fim ao cabo, fosse o
mesmo. De que valem os números no papel se os Antoninos e os Zacarias assistiram
a um mesmo número de aulas, mas um tinha Ipad, Iphone e Inão
sei quê, net fibra, apoio personalizado em casa, impressora, etc, etc, e o
outro mal tinha a casa. De que valem as transições administrativas para os
Relatórios X, Y e Z encaixarem nos perfis definidos para atingir as metas
definidas por uma Europa igualitária, se nada disso é real e temos uma
população estudantil cada vez menos interessada e letrada, se os níveis de
literacia global persistem em baixar para valores assustadores, que desaguam
num oceano acrítico, que interessará seguramente a muitos. A verdade é que
estes dois interregnos vieram aprofundar ainda mais este fosso latente que a escola
tenta contrariar e que eu gostaria de acreditar que aprendemos algo com estes
confinamentos, mas a esperança esvai-se a cada dia que observo da janela a
persistência dos comportamentos inconsequentes.
Este delírio não surgiu "num jato e
à máquina de escrever, sem interrupções nem emenda", mas foi fruto
de uma extenuante maratona silenciosa, no meio de um ruído ensurdecedor de vozes
dissonantes daqueles que tanto sabem de educação, mas da escola mal conhecem o
portão de fora, onde sempre figurava alguém a zelar pelo cumprimento das normas
de segurança de todos, ou as vidraças brilhantes, limpas por aqueles que recolhidos
nos seus medos avançaram cada dia para o “campo de batalha” sem mostrar os sentimentos
mais profundos mas exibindo a sua capa de missão, de dever num contributo ao
bom funcionamento da máquina educativa.
Que
os três meses que nos aguardam possam chegar de mansinho, com mais
tranquilidade e responsabilidade, pois o cansaço já não ajuda o discernimento e
todos estamos necessitados de dias de paz, de calmia e de bons ventos. Agora:
OFF!