quarta-feira, 31 de março de 2021

Eis que chegamos a mais uma meta – pausa de Páscoa. Pausa será quiçá uma hipérbole “mal amanhada” para o passito de pardal ferido que nos aguarda, mas é “melhor que nada” diria o povo e “Voz do povo, voz de Deus, minha senhora mãe”, já dizia a Maria do nosso Garrett. Foi uma caminhada sinuosa este segundo período, um percurso recheado de inseguranças e incertezas, povoado de fantasmas a cada despertar, mas lá chegámos, uma vez mais, a bom porto. Ou não! Demos, sim, mais um desafio por cumprido. Certezas? Poucas. Dúvidas? Bastantes. “Inutilmente? / Não, porque o cumpri.”, qual D. Duarte.

Foram semanas de imersão nesta missão, uma vez mais para que a fotografia pelo menos ficasse um pouco nítida, se possível, um pouco mais aprimorada do que a do ano passado: a primeira experiência de “ensino distanciado”, de uma troca de olhares e palavras entre ecrãs, ora coloridos pelas carinhas dos nossos alunos, ora pretos por uma ausência das mesmas, umas vezes pela vergonha, outras pelo puro capricho do desafio ou do sono teimoso que não convinha denunciar. Uma coisa é certa, ambas as experiências resultam num desconforto de um fato que foi apresentado sem tirar as medidas. Estivemos bem? Dizem que sim, que melhor. Será? Pois bem, não sei. Se a maratona faz suar, então sim, corremos uma bela de uma maratona e sim, chegámos à meta!

Lamentavelmente, uma vez mais, fica o sabor amargo de constatar aquilo que só o banho de imersão permite: os esquecidos serão sempre esquecidos, mas nestes momentos são-no ainda mais. Num retângulo de tamanhas assimetrias, a escola é talvez o palco onde estas se exibem mais e melhor, pelo que é muito ingrato que continuemos a ser governados por políticas tão desumanizadas, em que as prioridades estão invertidas e em que se confunde quantidade com qualidade como se tudo, ao fim ao cabo, fosse o mesmo. De que valem os números no papel se os Antoninos e os Zacarias assistiram a um mesmo número de aulas, mas um tinha Ipad, Iphone e Inão sei quê, net fibra, apoio personalizado em casa, impressora, etc, etc, e o outro mal tinha a casa. De que valem as transições administrativas para os Relatórios X, Y e Z encaixarem nos perfis definidos para atingir as metas definidas por uma Europa igualitária, se nada disso é real e temos uma população estudantil cada vez menos interessada e letrada, se os níveis de literacia global persistem em baixar para valores assustadores, que desaguam num oceano acrítico, que interessará seguramente a muitos. A verdade é que estes dois interregnos vieram aprofundar ainda mais este fosso latente que a escola tenta contrariar e que eu gostaria de acreditar que aprendemos algo com estes confinamentos, mas a esperança esvai-se a cada dia que observo da janela a persistência dos comportamentos inconsequentes.

Este delírio não surgiu "num jato e à máquina de escrever, sem interrupções nem emenda", mas foi fruto de uma extenuante maratona silenciosa, no meio de um ruído ensurdecedor de vozes dissonantes daqueles que tanto sabem de educação, mas da escola mal conhecem o portão de fora, onde sempre figurava alguém a zelar pelo cumprimento das normas de segurança de todos, ou as vidraças brilhantes, limpas por aqueles que recolhidos nos seus medos avançaram cada dia para o “campo de batalha” sem mostrar os sentimentos mais profundos mas exibindo a sua capa de missão, de dever num contributo ao bom funcionamento da máquina educativa.

 

Free Icon | Power button offQue os três meses que nos aguardam possam chegar de mansinho, com mais tranquilidade e responsabilidade, pois o cansaço já não ajuda o discernimento e todos estamos necessitados de dias de paz, de calmia e de bons ventos. Agora: OFF!

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Que o novo ano chegue de mansinho, invada os nossos corações, reconfortando mágoas e dores, alimentando sonhos antigos de sopros de energia e força para persistir neles, povoando-o de novas quimeras e projetos.

O dia 31 de dezembro é apenas um dia no calendário, mas torna-se especial pelo facto de nos permitir viver um renascimento a cada ano: é o renascer das expectativas, é a ânsia de espalhar alegria no ar, de aproveitar os últimos segundos de mais um ano e de recomeçar outro cheio de desejos lançados ao vento que sopra na direção que bem entende, mas isso nada importa quando a noite é estrelada e o brilho cintilante dessas estrelas nos ilumina e conduz ao reino da fantasia e da utopia. Nada importa mesmo quando o coração nos salta do peito, ganha vida e transcende esses sonhos, ensinando-nos cada dia a acordar para viver, a despertar para um novo caminho a trilhar, a enfrentar as inevitabilidades e a suportar as provações que ele nos reserve, pois afinal viver é isso mesmo: acreditar que cada dia é um desafio que conseguiremos superar!

Que o novo ano seja povoado de esperança, amizade, sonhos e concretizações! A todos aqueles que a vida colocou no meu caminho, àqueles que me fazem rir à gargalhada, aos que me libertam uma lágrima de emoção, aos que estão longe, aos de mais perto, aos que chegaram e àqueles que se afastaram, aos que estão sempre presentes, embora ausentes, a todos, sem exceção, desejo um Feliz Ano Novo, que (re)encontrem nas vossas vidas o brilho das estrelas que tornam a vida mais mágica e consigam desfrutar do que ela contém! Um abraço apertadinho e continuem a ser felizes!

Feliz 2019!


(Imagem: « La nuit étoilée », Vincent Van Gogh, 1889)

sábado, 29 de agosto de 2015

Cimento, nada mais é agora do que um pedaço de cimento… ou afinal, não!


Tudo começa com dor! Afinal, antes do prazer veio a dor. E não menos dor pode causar esse prazer.
Metafísica bastante será, de facto, não pensar em nada, não pensar em coisa nenhuma, pois a metafísica das coisas não as reveza, está nelas, em si mesmas. É, incontornavelmente, na voz dos poetas, dos génios da palavra, que encontramos tantas vezes ecos dos nossos mais profundos sentimentos, sensação fantástica de limpeza da alma. Contudo, há emoções que as palavras não preenchem, são somas de odores inolvidáveis, que por fracções de segundo juramos haver recuperado num não sei onde, não sei quando em que as narinas perderam as rédeas da razão e se deixaram levar pelo coração pelas ondas da imaginação e da saudade.
Há, certamente, para cada um de nós, sabores irrecuperáveis, apesar das cautas receitas guardadas e herdadas, apesar da força titânica da vontade de reviver cada um dos ingredientes do amor, da partilha, dos afectos. Há, sem dúvida, sons irrepetíveis que nascem nas profundezas do nosso ser, por vezes mesmo sem nos darmos conta, que vibram na nossa alma e reverberam por todos os milímetros do nosso corpo, apesar de todos os novos timbres que sucedem modas e estilos. E, depois, bem, depois há aquelas palavras que ninguém mais pronunciará com a mesma voz, com a mesma doçura no olhar, com a mesma essência e pureza do avô que vê as profundezas da alma dos netos sentados um em cada perna a fazer cavalinho e a sorrir para não se ouvir o gemido da dor que já teima em ser omnipresente e omnipotente.
Lá fora, chove, troveja, faz frio…não, não damos por nada. Cá dentro cheira a filhós e rabanadas, daqui a nada fará sol, depois as primeiras flores começarão a perder a timidez… Que pena, essa parte não acompanhamos… pelo menos não aqui, mas no Estio cá estaremos de novo e as cerejas, ai as rubras e carnudas cerejas, que perdição! Elas cá estarão…o colo já não… de novo, o Outono, novas folhas cairão, o vento despirá para nós, que estamos quase a regressar, os últimos ramos…nós voltaremos…o colinho não…


Não, não é apenas um chão de cimento! Lamento, recuso-me a aceitar que o seja! No fim, o cimento é apenas a parte visível e o que sobra para quem não quer sentir! Por mais anos que passem, o cimento será apenas a marca visível e sólida da consistência das emoções que jamais morrerão, dos momentos perpetuados nos lugares habitados, de todos os sentidos congelados na pedra da saudade. 

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Carpe Diem! Sempre!

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“Quando se ofereciam rosas, tiravam-se-lhes os espinhos para a dádiva ser só beleza, cor e perfume. Era isso que queria: partilhar com os outros a beleza do mundo sem os espinhos do sofrimento. Mas como fazer?” (História com Recadinho, Luísa Dacosta)

Eis um dos grandes dilemas com que nos deparamos diariamente: como fazer? como minimizar o sofrimento, quando nada resta reparar, quando não mais há que esperar, quando tão pouco podemos alterar?
A realidade que nos rodeia é, na realidade, deleitosamente colorida, contudo, não raras vezes, acinzenta-se e contagia o nosso ser, viciando atitudes, pequenos gestos e palavras que libertamos, reiteradamente sem sequer pensar nas reverberações despoletadas! Aprendamos cada dia o tato da reflexão antecipada, da ponderação cauta e previdente para que mesmo em dias cinzentos nos caiba colorir o mundo de alguém ou, pelo menos, repor a verdadeira perfeição pitoresca ao mundo.

Carpe Diem! Sempre! 

sábado, 19 de abril de 2014

Será este também o Portugal desejável nos nossos dias?...




Serão estas palavras tão distantes de algumas declarações atuais? 
(Estas palavras, entenda-se, saem, pela tinta de Sttau Monteiro, da boca de D.Miguel, quando este traça o retrato do "Portugal desejável", do seu Portugal miguelista, ignorante e submisso, no ano da graça de 1817)

Estaremos acaso cada vez mais numa vertiginosa viagem de regresso ao passado? 
Que presente temos? E que futuro esperar quando o colossal abismo que separa as gentes teima em não desacelerar?





domingo, 26 de janeiro de 2014

“Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis”
[Bertold Brecht]

A três meses de celebrarmos o quadragésimo aniversário da revolução de abril, talvez vá sendo útil repescar algumas recordações que avivem a nossa memória adormecida pelo ímpeto frenético do século XXI.
Houve homens que lutaram, um dia, dias, semanas, anos, muitos anos, toda a sua vida e, sem dúvida, estes são os nossos heróis, estes são dignos do reconhecimento e da nossa memória.
É contudo de lamentar que haja também homens que continuem acomodados em cadeirões de poder, fazendo e desfazendo, qual Penélopes, as suas teias de interesses individuais, de forma despesista ignorando os direitos alheios tão arduamente conquistados.
Talvez seja útil pensar um pouco… e, depois, quiçá talvez também começar a agir um pouco mais ainda…

Tomando agora as palavras de um português maior:

Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a hora! Valete, Frates

                                  [Fernando Pessoa]


quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Sim, a luz pode iluminar, mas não, as sombras não apagarão nunca a luz que há no interior de cada um de nós.
Em tempos houve poetas, em tempos idos cantava-se poesia, mas felizmente hoje ainda há quem beije as palavras, quem morda cada sílaba como se de um ato de amor se tratasse.
São estas iluminadas pessoas que nos fazem continuar a acreditar que SIM, há poesia em toda a parte e SIM, a palavra é um dom, é fabulosamente forte ou fraca, conforme o queiramos.
Num tempo em que se grita não ser valorizada a cultura, ainda é possível ver uma sala cheia, ao rubro, numa invernosa noite de janeiro, a meio de mais uma semana de trabalho, para os felizes que ainda seguram o seu. Foi possível porque a poesia ILUMINA-NOS, assim o desejemos. Foi possível, porque a música CUIDA DE MIM, cuida de nós. Foi possível porque juntos somos senhores do tempo e tudo podemos, podemos mesmo VOAR, e EM CONTRAMÃO… E foi possível “Porque só há um Deus no nosso céu,/Chama-se A.M.O.R.”


Obrigada, Pedro Abrunhosa, pela qualidade da palavra e, claro, por podermos sempre VOLTAR PARA OS BRAÇOS DA (nossa) MÃE.