sábado, 29 de agosto de 2015

Cimento, nada mais é agora do que um pedaço de cimento… ou afinal, não!


Tudo começa com dor! Afinal, antes do prazer veio a dor. E não menos dor pode causar esse prazer.
Metafísica bastante será, de facto, não pensar em nada, não pensar em coisa nenhuma, pois a metafísica das coisas não as reveza, está nelas, em si mesmas. É, incontornavelmente, na voz dos poetas, dos génios da palavra, que encontramos tantas vezes ecos dos nossos mais profundos sentimentos, sensação fantástica de limpeza da alma. Contudo, há emoções que as palavras não preenchem, são somas de odores inolvidáveis, que por fracções de segundo juramos haver recuperado num não sei onde, não sei quando em que as narinas perderam as rédeas da razão e se deixaram levar pelo coração pelas ondas da imaginação e da saudade.
Há, certamente, para cada um de nós, sabores irrecuperáveis, apesar das cautas receitas guardadas e herdadas, apesar da força titânica da vontade de reviver cada um dos ingredientes do amor, da partilha, dos afectos. Há, sem dúvida, sons irrepetíveis que nascem nas profundezas do nosso ser, por vezes mesmo sem nos darmos conta, que vibram na nossa alma e reverberam por todos os milímetros do nosso corpo, apesar de todos os novos timbres que sucedem modas e estilos. E, depois, bem, depois há aquelas palavras que ninguém mais pronunciará com a mesma voz, com a mesma doçura no olhar, com a mesma essência e pureza do avô que vê as profundezas da alma dos netos sentados um em cada perna a fazer cavalinho e a sorrir para não se ouvir o gemido da dor que já teima em ser omnipresente e omnipotente.
Lá fora, chove, troveja, faz frio…não, não damos por nada. Cá dentro cheira a filhós e rabanadas, daqui a nada fará sol, depois as primeiras flores começarão a perder a timidez… Que pena, essa parte não acompanhamos… pelo menos não aqui, mas no Estio cá estaremos de novo e as cerejas, ai as rubras e carnudas cerejas, que perdição! Elas cá estarão…o colo já não… de novo, o Outono, novas folhas cairão, o vento despirá para nós, que estamos quase a regressar, os últimos ramos…nós voltaremos…o colinho não…


Não, não é apenas um chão de cimento! Lamento, recuso-me a aceitar que o seja! No fim, o cimento é apenas a parte visível e o que sobra para quem não quer sentir! Por mais anos que passem, o cimento será apenas a marca visível e sólida da consistência das emoções que jamais morrerão, dos momentos perpetuados nos lugares habitados, de todos os sentidos congelados na pedra da saudade. 

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